Passei horas procurando pelo ponto turístico mais curioso de Chicago: uma pedra. Confesso que quase desisti, mas encontrei a pedra icônica fruto de um beijo histórico.
Uma placa esculpida nessa pedra foi colocada na esquina da sorveteria onde, em 1989 o ex-presidente dos EUA Barack Obama beijou Michelle pela primeira vez.

Pedra que marca o local do primeiro beijo de Michelle e Obama, em Chicago – foto Andrea Miramontes @ladobviagem
Com o beijo, a história dos casal marcaria para sempre o Hyde Park, região de South Side, em Chicago, onde a ex-primeira-dama cresceu em uma infância batalhadora e de origem humilde.
Hyde Park é um dos 77 bairros de Chicago, nos Estados Unidos. O destino, que vai além das atrações clássicas da cidade, é uma vizinhança que marcou a cidade na cultura e na música, além de ser o local que abraçou a história dos Obama.
Deixo o endereço exato para quem quer visitar a esquina do beijo. Mas, sinceramente, há muitas outras atrações legais para um dia sensacional em Hyde Park, do que fotografar a pedra (como eu fiz).
O local exato é a esquina das ruas Dorchester e 53rd, Hyde Park. A sorveteria Baskin-Robbins, onde Obama levou Michelle para o primeiro encontro, já nem existe mais. Agora, só tem a pedra mesmo.
A duas quadras de lá está, inclusive, o restaurante Valois, o preferido de Obama para tomar café da manhã.
No caminho, aproveite para ver lojinhas locais, mais cafés, restaurantes e topar com música ao vivo em alguma de suas esquinas, fruto de uma cena cultural autêntica e vibrante que se formou depois da migração histórica no século 20, que conto mais abaixo.

Música ao vivo em uma das esquinas de Hyde Park, em Chicago – foto Andrea Miramontes @ladobviagem
A região é marcada pela luta e chegada dos afroamericanos, pelo museu mais importante da cidade, praias à beira do lago Michigan e história do jazz, com alguns dos músicos mais famosos do mundo.
Vamos mergulhar na história de Chicago, em uma tarde que vai marcar profundamente sua viagem ao destino.
Da infância humilde à Casa Branca

Michelle e o pai, durante a infância em South Side, em Chicago – foto Instagram
Michelle Robinson, seu nome antes de Obama, cresceu na área conhecida como South Shore, parte do South Side. Ao caminhar pelas calçadas arborizadas da região, entre as casas de arquitetura histórica e parques, tentei reviver seus passos na infância e adolescência.
Com o irmão, ela foi criada integrada à comunidade local, bastante conscientes da classe batalhadora em que viviam, inclusive, inserida em um contexto de luta e discriminação pela cor de pele.
Mas nada abalou Michelle, que, mais tarde, formou-se em direito pela Harvard Law School.
Em seu Instagram, ela ressalta a importância dos estudos em sua vida. “Toda menina no planeta merece o mesmo tipo de oportunidade que eu tive — uma chance de realizar seu potencial e perseguir seus sonhos. Meninas que vão à escola têm filhos mais saudáveis, salários mais altos, menores taxas de pobreza e ajudam a impulsionar a economia de todo o país”.
Já advogada, foi no escritório em que trabalhava, no centro de Chicago, que conheceu seu estagiário, Barack Hussein Obama.
Michelle foi mentora de Obama. O episódio está muito bem contado no livro biografia “Minha história”.
Como uma boa fofoca sempre dá o tempero para explorar um destino, vale relembrar que Michelle detalha sua paquera com Obama. Na época, ele era o estudante de direito mais cobiçado do escritório.
Não havia uma só secretária ou advogada que não suspirasse ao ver Obama passar, sempre cordial, bem-humorado, de sorriso largo e inteligente, Enfim, muito atraente.
Michelle relembra, em especial, um dia em que o ex-presidente chegou com um terno branco, gerando alvoroço. Obama, criado no Havaí e na Indonésia, flanava impávido pelo escritório.
Mesmo com muitas pretendentes, apaixonou-se por Michelle, e a gente nem precisa de matemática para entender. A personalidade e o magnetismo de Michelle vêm de berço e têm relação direta com a história do local onde cresceu.
Grande migração, jazz e blues
A Grande Migração, movimento que aconteceu entre 1916 e 1970, moveu milhões de afro-americanos do Sul dos Estados Unidos para o Norte, a maioria, para Chicago, com o objetivo de fugir da segregação e da pobreza.
South Side se expandiu com a cultura negra, inclusive, na música, o que fez de Chicago um dos grandes centros mundiais de blues e jazz. Essa comunidade vibrante e criativa foi o berço da família de Michelle Obama.
Entre as décadas de 20 e 30, o movimento foi chamado de “Renascimento Negro de Chicago”, que é comparado ao Harlem, em Nova York.
Nesse movimento, vários astros do jazz e do blues chegaram a Chicago, como Louis Armstrong, nascido em Nova Orleans. O trompetista e cantor dono do hit What a Wonderful World mudou-se para Chicago em 1922.
Entre outros ídolos da música, foi lá que desembarcou Nat King Cole, com apenas 4 anos em 1930, quando sua família chegou durante o movimento migratório. Foi em uma uma igreja de Chicago que ele aprendeu a tocar piano e virou um dos maiores artistas de jazz e música pop dos anos 50 e 60.
Como movimento, Chicago firmou-se como um dos polos do jazz e blues no mundo. Essa cena vibrante pode ser curtida em diversas casas de shows pela cidade, um programa imperdível durante sua viagem.
Entre os muitos bares e locais de shows, indico um dos mais lindos que já visitei, House of Blues.

House of Blues fica no centro turístico de Chicago; assistir a um show na casa é viver um pouco da alma musical da cidade – foto Andrea Miramontes @ladobviagem
Arquitetura: a alma
Se tem algo em Chicago que vai marcar sua viagem é a arquitetura. E ela pode ser apreciada tanto nos arredores da The Magnificent Mile quanto nos bairros.
Após o grande incêndio de 1871, a cidade foi belamente reconstruída, moldou estruturas de aço em arranha-céus e criou um skyline icônico e um dos mais famosos do mundo.
Em Hyde Park, além de curtir a aquitetura gótica da University of Chicago, é aqui que se localiza uma obra-prima do século 20, a Robie House, projetada por Frank Lloyd Wright.
Casa Robie é Patrimônio Mundial da UNESCO desde 2019. A obra faz parte do conjunto de oito edifícios de Frank Lloyd Wright, como ícone da arquitetura. Um dos maiores arquitetos do século 20, ele criou projetos que marcaram metrópoles, como o Museu Guggenheim, em Nova York.

Robie House, projetada por Frank Lloyd Wright – foto Wikipedia
Construída em 1910, a casa é um ícone da arquitetura americana moderna e modelo fiel do estilo Prairie, criado por Wright, movimento de arquitetura integrada à natureza, com espaços fluidos. No século 20, o movimento fez contraste com o estilo de casas europeu.
Para conhecer toda história dos edifícios e os mestres da arquitetura que os criaram, como Louis Sullivan, Jeanne Gang, Daniel Burnham, Mies van der Rohe, além de Frank Lloyd Wright, há diversos tours pela cidade, tanto com caminhadas guiadas como em passeios de barco pelo lago Michigan.
São várias empresas de barco, e todas excelentes. Amei um desses cruzeiros focados em arquitetura que sai do centro turístico da cidade, do Navy Pier, chamado Chicago Architecture Center River Cruise.

A bordo do cruzeiro que conta a história da arquitetura de Chicago – foto Andrea Miramontes @ladobviagem
O museu que marcou a história
A região que moldou Michelle Obama abriga ainda um dos museus mais importantes de Chicago, Griffin Museum of Science and Industry.
O maior museu de ciências do Hemisfério conta com mais de 2 mil exposições, desde a primeira locomotiva dos EUA até modelos de aviões e muitas áreas interativas de ciência, que as crianças amam.
Ele foi construído para a feira mundial de 1893 e virou um símbolo do desenvolvimento industrial e científico de Chicago.

Griffin Museum of Science and Industry, no Hyde Park, em Chicago – foto Andrea Miramontes @ladobviagem
A Feira Mundial de 1893, World’s Columbian Exposition, foi uma das exposições internacionais mais influentes da história. Embora comemorasse os 400 anos da chegada de Cristóvão Colombo às Américas, o evento marcou o renascimento de Chicago após o Grande Incêndio de 1871.
No final do século 19, virou então um símbolo de poder industrial, artístico e científico dos Estados Unidos.
A visita deve ser feita com calma, especialmente se estiver com criança. Há muito a explorar. O museu define sua missão como “inspiring the inventive genius in everyone” ou seja, inspirar o gênio inventivo em cada um de nós.
Entre os experimentos e curiosidades, é possível visitar um submarino real capturado dos alemães durante a Segunda Guerra, o Submarino U-505. Explore por dentro e veja como funcionava a vida dentro desse instrumento de guerra estreito e claustrofóbico.
Também é interessante embarcar no Boeing 727, visitar a cabine de comando entre mais curiosidades. Na área The Great Train Gallery é possível checar locomotivas e vagões de diferentes épocas, inclusive a primeira dos Estados Unidos.
Achei impressionante, não só para crianças, mas para adultos curiosos, uma exposição que mostra, em protótipos ultrarealistas, o desenvolvimento de um feto desde o primeiro dia de vida, chamada Your beginning.
Diversos experimentos explicam e promovem a experiência de fenômenos da natureza, com simulação de tornados, avalanches e até tsunamis.
Praia e a primeira escultura de Yoko Ono
Para terminar seu dia perfeito em Hyde Park, vivencie a comunidade de South Side.
Caminhe ao pôr do sol pelas praias à beira do lado Michigan, inspiração para ícones do blues, do jazz e para a importante luta de afroamericanos, que, lá, ajudaram a mudar o curso da história do país.

Praia do lago Michigan em Hyde Park – foto Andrea Miramontes @ladobviagem
Neste roteiro está o jardim japonês Osaka Garden, que abriga a primeira escultura pública criada por Yoko Ono nas Américas, chamada Sky Landing”.
Doze pétalas de lótus de aço representam “yin e yang”, forças opostas e complementares na filosofia chinesa, presentes em todas as coisas. A obra simboliza cura e paz.

Sky Landing fica no Osaka Garden e é a primeira instalação de arte pública permanente de Yoko Ono nas Américas; foto Facebook
Minha segunda vez em Chicago
Chicago é uma das cidades mais lindas dos Estados Unidos, e uma viagem só nunca dará conta de tantas atrações, museus, resturantes, bairros e parques, como mostro nas fotos abaixo.
Estive na cidade para o maior evento de turismo dos Estados Unidos, a IPW, que aconteceu em Chicago neste 2025.
Foi uma grande oportunidade para me atualizar sobre os melhores destinos dentro dos EUA, além de explorar mais a fundo o contexto social em que Chicago se desenvolveu, no bairro de Michelle Obama.

Fred Dixon, presidente e CEO do Brand USA, em apresentação na IPW 2025 – foto Andrea Miramontes @ladobviagem

Andrea Miramontes em Chicago – veja todas esass atrações principais no insta @ladobviagem
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