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Tenho pavor do sobrenatural e fujo de filmes de zumbis. Agora, aos meus pesadelos, juntou-se a loira do Edifício Martinelli, prima daquela do banheiro. Só que essa alma platinada costuma vagar em elevadores.

Conheci onde os fantasmas paulistanos costumam assombrar com o roteiro São Paulo Além dos Túmulos e a ajuda de historiadores.

São lugares como o casarão acima, no qual a alma de dona Yayá ainda berra de sofrimento e atormenta quem vive por perto.

O Edifício Martinelli, primeiro arranha-céu brasileiro, é um deles. Nesse lugar icônico mora a loira do elevador. Funcionários juram que a alma penada de cabelos amarelos esbranquiçados chama o “mesmo” e se desintegra. Travessa, ela ainda bate portas, ri alto e sussurra, para atormentar quem circula pelo prédio.

Reza a lenda que as almas que são de pessoas brutalmente assassinadas por lá. O professor Eduardo Baez, docente de história da arte do curso pré-vestibular Stoodi, lembra de um crime famoso que aconteceu em 1947, quando um menino chamado Davidson foi estrangulado e jogado no fosso do elevador.

“Inaugurado em 1929, o Martinelli ficou marcado por suicídios e assassinados ao longo das décadas e, como um dos ícones do centro da capital, coleciona histórias do tipo”, completa Baez.

Para quem quer saber mais sobre o prédio – e também dos fantasmas – o local oferece uma visitação gratuita guiada, que pode ser consultada no site. Mas está suspensa no momento.

Joelma: o inferno do fogo

Outros fantasmas escolheram bater portas e assombrar o Edifício Joelma. O local foi palco de uma das grandes tragédias do País. Em 1974, 187 pessoas morreram no famoso incêndio, sendo que 13 delas viraram almas sem rumo.

A culpa, aparentemente, é do terreno amaldiçoado, onde o prédio foi levantado. Antes da construção, uma família morreu e foi jogada em um poço. O criminoso se matou. E até o bombeiro que achou os corpos faleceu logo depois – de infecção cadavérica.

Continue seu passeio em busca das almas pelo bairro da Liberdade, que não decepciona no quesito assombração. Muita gente foi enforcada lá, e, por isso, espíritos injustiçados ainda se arrastam pelas ruas.

Entre as visitas no local, há o Beco dos Aflitos. O revolucionário Chaguinhas precisou ser enforcado três vezes para morrer de verdade. O corpo dele ainda está por lá, e sua alma ajuda a realizar pedidos, após um ritual.

Crimes e sofrimento

Para José Geraldo Simões, professor de História da Arquitetura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, as lendas urbanas se fortalecem de acordo com a gravidade dos crimes e quantidade de sangue derramado no lugar. Quanto mais sofrimento, mais famoso o fantasma.

“No centro da capital, perto do Pátio do Colégio, um lugar icônico é o Beco do Pinto. A escadaria que ligava a parte baixa com a alta de São Paulo, nos séculos 18 e 19, foi palco para muito sofrimento de escravos, e, hoje, há muitas histórias de gritos e fantasmas que assombram o beco”.

O professor lembra também a história da casa da dona Yayá (1887 a 1961), na Bela Vista, em São Paulo. Com a morte trágica da família, a mulher desenvolveu problemas mentais e foi mantida trancada sozinha na casa por aproximadamente 40 anos.

Após sua morte, funcionários e vizinhos juram ainda ouvir os gritos terríveis de sofrimento de Yayá. Hoje, no casarão funciona o Centro de Preservação Cultural da USP.

Castelinho assombrado

O “castelinho da rua Apa” não pode ficar de fora do seu roteiro sobrenatural. O assassinato de uma família inteira dentro da casa, na década de 30, nunca foi desvendado.

Hoje, as mortes e arquitetura exótica do edifício alimentam histórias de correntes que se arrastam sozinhas, gritos durante a noite e barulhos sobrenaturais vindos de dentro do prédio.

“Do ponto de vista arquitetônico, o prédio seguiu o ecletismo, estilo muito usado entre as décadas de 1870 e 1950 que copia arquiteturas do passado. A casa da rua Apa se inspirou em um castelo medieval francês”, completa.

Cemitério da Consolação, do Araçá, Teatro Municipal também têm lendas de arrepiar os cabelos.

De acordo com o professor Eduardo Baez, as lendas do Municipal nasceram nos túneis secretos do teatro. Dizem que os artistas que usavam os subterrâneos mantiveram suas almas no local.

“O cemitério da Consolação é um verdadeiro ícone da cidade. Algumas lendas de fantasmas se devem aos famosos que estão enterrados por lá”.

O escritor Mário de Andrade, Marquesa de Santos, o escritor Monteiro Lobato e a pintora Tarsila do Amaral são algumas das celebridades com túmulos na Consolação.

Se não quiser fazer essas visitas sozinho, existem  tours que organizam os passeios.

Seja como for, grude em seu patuá e prepare-se. Depois de conhecer as almas penadas, seu olhar sobre os prédios históricos de São Paulo, bem como seu sono, jamais serão os mesmos.

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