Há quase 2 mil anos, o vulcão Vesúvio, no sul da Itália, passou pela erupção mais violenta que o país já viveu.
Em 79 D.C., Pompéia, Herculano e outros povoados foram engolidos pela explosão da montanha.
Além da famosa Pompéia, que virou literatura e filme, a pequena Herculano também foi parcialmente escavada, recuperada e pode ser visitada.
Herculano fica aos pés do Vesúvio, a apenas 4 km do gigante. Está perto de Pompéia e a 30 minutos de trem de Nápoles.
Durante a visita, você estará sempre acompanhado pelo vulcão, que é visto de quase todos os pontos da cidade antiga.
O gigante ativo nos observa do alto, e, como reforçam estudiosos, pode entrar em erupção a qualquer momento.
Herculano, como Pompéia, ainda está em processo de descoberta. A cada ano, há novidades arqueológicas a serem visitadas.
Recentemente, foram encontrados corpos com esqueletos nas escavações, como um de um homem “vaporizado” pelo vulcão, ao tentar escapar pela praia.
Como a maioria, ele morreu ao ser atingido pela nuvem piroclástica do vulcão, gases e vapores do Vesúvio que chegaram à temperatura de 500ºC, de acordo com a agência italiana de notícias, ANSA.
Vulcão: ameaça ou bênção?
Apesar do perigo constante de uma nova tragédia, moradores não vivem com medo e respeitam a montanha.
É o que conta Giuseppe Nocerino, nascido em Herculano e filho de família centenária da cidade.
A família de Giuseppe é proprietária do 7cento Vesuviano , uma hospedagem charmosa e histórica. localizada na rua principal de Herculano, a mesma onde estão as escavações.
“Nascemos com o perigo, mas não o sentimos, vemos o vulcão com respeito”, conta o empresário.
“Foi uma erupção violenta e catastrófica. Nos anos seguintes, tivemos outras mais leves, sendo a última na década de 1940”.
O mesmo vulcão que ceifou tantas vidas também é generoso com quem mora por lá. Justamente pelo solo vulcânico, a gastronomia da região ganha sabores únicos.
As delícias vão desde os tomates San Marzano, de sabor acentuado, cultivados à sombra do Vesúvio, até azeites e vinhos.
Tomates do Vesúvio são colhidos no verão e pendurados em cachos. A polpa é carnuda e saborosa, deliciosa em pastas e pizzas.
O vinho mais famoso do Vesúvio é o Lacryma Christi, que reúne várias uvas cultivadas ao lado da montanha, para vinho DOC (Denominação de Origem controlada).
O vinho pode ser encontrado tanto nos mercados, como nos restaurantes. Mas conforme você se afasta da região, ficam mais raros. Estar por lá é a oportunidade perfeita para provar.
Ao lado de Herculano, entre o caminho da cidade a Pompéia, é possível visitar produtores que vivem, literalmente, ao pé do vulcão, como a Cantina del Vesuvio Winery.
Nos poucos restaurantes de Herculano, que são bastante autênticos, não deixe de provar também uma bela “Parmigiana di melanzane”, a berinjela à parmegiana.
Berinjela, aliás, está em tudo, do prato principal aos petiscos, em deliciosas bruschettas.
Sangue do santo: milagre
O Vesúvio, apelidado pelos italianos na região de “Il Capo” (o patrão), também é cercado de superstições.
Uma delas é que San Gennaro, santo padroeiro de Nápoles, protege o povo contra erupções violentas.
Em 1631, San Gennaro teria evitado uma nova catástrofe. As histórias milagreiras de San Gennaro fazem parte de outra viagem, desta vez ao centro de Nápoles.
Lá está a igreja, que abriga o corpo e o sangue do santo, que é adorado na cidade.
Em 305 D. C., foi decapitado e teve o sangue recolhido em ampolas, que, misteriosamente, se liquefaz todos os anos. Milagre de San Gennaro.
Caso o sangue não se torne líquido é um mau sinal, um presságio de que tempos ruins se aproximam. De acordo com os locais, pode ser, inclusive, sinal de que o vulcão está incomodado.
Herculano e Pompéia
Nem pense em visitar os dois destinos no mesmo dia. Pompeia é enorme e precisa de um dia só para ela.
Em Herculano, bastam algumas horas. Reserve uma tarde. Mas, sinceramente? Eu passaria uma noite, como fiz. Conto aqui mais coisas para fazer neste destino.
Naquela época, enquanto em Pompéia viviam 20 mil pessoas, em Herculano, eram cerca de 5 mil.
Em Herculano, as escavações são muito menores, ficam no centro da cidade nova, e a apenas 15 minutos de caminhada da estação de trem.
Tanto em Pompéia, como em Herculano, há a cidade moderna, construída nos últimos séculos, e a antiga, a área onde estão as escavações.
Nos dois destinos, as áreas arqueológicas são cercadas e têm ingressos cobrados. Visitas podem ser feitas com ou sem guia ou audioguia.
Para entrar Herculano paga-se a partir de 13 euros por pessoa. Vale cada centavo.
Herculano foi mais soterrada do que Pompéia. A cidade de antes de Cristo atingida ficou a, aproximadamente, 20 m abaixo do solo.
A cidade nova foi construída em cima da antiga, e as escavações mostram apenas uma pequena parte do que ainda está debaixo de tudo.
Herculano é uma cidadezinha simpática típica da Campania. No centro, é possível ver casas com os varais e “carçolas” penduradas, como em Nápoles, que está do lado.
A arquitetura é semelhante à de Nápoles. Não faça só o centro arqueológico, vale um passeio pelas ruas.
No coração de Herculano, fora das ruínas, há o Museu Arqueológico Virtual. Organizado com holografias e simulações digitais, o museu também mostra como era Herculano antes da tragédia.
Já no final da tarde, pegue o pôr do sol no porto, que fica ao lado da estação de trem. Alguns bares ao redor oferecem petiscos saborosos com ingredientes do Vesúvio e excelentes vinhos.
O que ver no parque arqueológico de Herculano?
Nas ruínas, ruas, construções, arte e objetos de mais de 2 mil anos retratam a vida da época. Mas também as mortes com a fúria do Vesúvio.
O vulcão enterrou uma cidade inteira. Ao entrar no centro arqueológico, o turista vê as construções antigas do alto e desce por um túnel, para andar pelas escavações.
Faça a visita com calma e aguce sua curiosidade ao olhar cada canto descoberto pela arqueologia.
Abaixo, estão alguns pontos altos do passeio. Mas, o ideal mesmo, é fazer uma visita com guia.
FORNICI
Logo na entrada, preste atenção aos Fornici, edifícios portuários de Herculano.
Muitos habitantes que não conseguiram fugir se esconderam dentro desses lugares. Em 1980, 300 esqueletos foram encontrados por lá. E ainda permanecem.
Durante minha visita, o acesso direto à área estava impedido. Mas de toda forma, não queria ver mortos tão de perto. Olhe na seta onde estão.
Bodegas, tabernas, fontes e, especialmente afrescos romanos impressionam na visita.
Durante o entra e sai das construções recuperadas, é possível ver mosaicos, pinturas e esculturas em prefeito estado.
As cores presentes nas construções quebram o estigma de que a arquitetura teria tons monótonos na época.
Também é marcante a presença da mitologia greco-romana por quase todas as construções.
O design grego está muito presente, pois Herculano foi território grego. Em 89 A.C., tornou-se romano após a invasão.
O próprio nome da cidade, Herculano ( Herculaneum, em latim), foi dado em homenagem à figura mítica Hércules (chamado de Júpiter pelos romanos).
De uma força insuperável, Hércules matou duas serpentes quando ainda era bebê de berço. Já adulto, ficou famoso por finalizar 12 tarefas consideradas impossíveis.
Casa di Nettuno e Anfitrite
Um dos afrescos mais bonitos é justamente o da chamada Casa di Nettuno e Anfitrite, construção em homenagem a um dos casais mais poderosos do Olimpo.
A pintura colorida que representa o casal é uma das mais disputadas para fotos.
Deus dos oceanos, Netuno é o nome que os romanos deram ao deus grego Poseidon.
Temperamental, Netuno (ou Poseidon) era conhecido por causar maremotos implacáveis.
Para controlar seu humor, Zeus, irmão de Netuno, resolveu que o deus furioso precisava se casar. Arrumou uma ninfa marinha, a nereida Anfitrite, para ser sua esposa.
De beleza hipnotizante, Anfritite ganhou a paixão imediata de Netuno. Mas, com medo, fugiu de Netuno e se escondeu nas profundezas do mar.
Imaginem a fúria do deus do mar, caso não a encontrasse mais, justamente em seu reinado de águas.
Reza a a lenda que a ninfa foi convencida por um golfinho, cheio de lábia, a sair do esconderijo e casar-se com Netuno.
Feliz com a ajuda do animal, Netuno transformou o golfinho em uma constelação famosa, chamada Delfim.
Mitologia à parte, a pintura do casal poderoso foi recuperada nesta construção imperdível de Herculano.
Repare nos detalhes que as escavações recuperaram nesta construção, com figuras da mitologia.
Terme Centrali e mais termas
Banhos públicos eram muito populares na região da Capania, onde está Herculano. Pompéia, ao lado, também ficou famosa pelas casas de banho.
No costume grego antigo, onde elas nasceram, eram lugares públicos também para se exercitar.
Nas ruínas de Herculano e Pompéia estão as casas do “tipo pompeiano” que já não tinham mais a área para atividade física.
Eram separados os lugares para homens e mulheres banharem-se. Mas essa regra nem sempre era obedecida.
Além promover higiene, casas de banho eram lugares sociais, de encontros, e, muitas vezes também eram usadas como prostíbulo.
Na decoração, muitas vezes há figuras míticas do mar, como este mosaico impressionante.
Ele fica em uma das casas de banho, na parte masculina do local.
Casa Del Rilievo Di Telefo
Possivelmente essa foi uma das maiores casas de Herculano, um verdadeiro palácio com colunas imponentes.
A casa, de quase 2 mil metros originalmente, tinha 3 andares, em estilo greco-romano.
Estima-se que a construção data de 27 a.C. e 14 d.C. e é uma das mais impressionantes, decorada de forma colorida, com afrescos e esculturas.
Caminhe por tudo, a visita a Herculano é muito rica.
Casa do cervo, mansão que ganhou o nome por ter esculturas de cervos no jardim, bodegas, rua do antigo comércio, além de mais termas de banhos públicos. Há muito a se ver.
Dentro da área arqueológica, não há bares, tampouco lugares para descanso. Então, uma calçada milenar pode ser o seu banquinho.
Collegio degli Augustali
Um colégio sacerdotal e local dedicado a culto ao imperador Augusto foi descoberto também nas escavações e se mostrou um dos mais decorados por afrescos.
O professor de arqueologia Umberto Pappalardo reforça a influencia que o imperador Augusto (27 A.C. a 14 D.C.) teve na arquitetura e decoração de Herculano e Pompéia.
O professor explica que as duas cidades eram redutos de pessoas ricas, que queriam se adequar ao novo imperador, e isso se refletiu na arquitetura e arte do local.
Palácio do século 17 e sfogliatella
Apesar de ser fácil fazer um bate e volta de Herculano a Nápoles, preferi me hospedar uma noite no destino.
Não me arrependi. Foi nessa oportunidade que conheci a família secular que mora ao lado do vulcão, os proprietários do 7cento Vesuviano.
O B&B de luxo 7cento Vesuviano fica em um palácio do século 17, decorado por peças originais e pedras vulcânicas. Os quartos são imensos e muito confortáveis.
Todas as manhãs, seu Antonio, pai de Giuseppe, leva o café da manhã com delícias locais aos hóspedes, que inclui sfogliatellas frescas.
Quitute italiano centenário, a sfogliatella é uma guloseima parecida com massa folhada, recheada com creme doce de ricota.
Seu Antônio, gentilmente, nos apresentou as duas versões fresquinhas: Sfogliatella riccia e frolla.
Sfogliatella riccia é mais crocante por fora, enquanto que a frolla lembra muito o sonho vendido nas nossas padarias. Mas a massa é fechada e mais leve.
Nem preciso dizer que é imperdível experimentá-la em todas as cidades da região que você visitar.
A hospedagem e o contato com a família centenária fizeram toda diferença para entendermos o destino além das ruínas.
Ressignifica-se a vida em Herculano, o quanto o vulcão é respeitado e o quanto traz coisas boas, que vão além da tragédia vivida.
Como disse Cora Coralina em um de seus poemas: “O passado foi duro, mas deixou o seu legado. Saber viver é a grande sabedoria”.
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