Passei dois dias dentro da única comunidade indígena feminista do Panamá. Arrisco dizer, das Américas.
Milenar, a tribo Naso Tjer Di é dividida em comunidades governadas por um rei. As pequenas comunidades Naso ficam espalhadas em Bocas del Toro, no Panamá, quase na divisa com a Costa Rica.
Uma delas é a feminista, liderada por mulheres. Aqui, não há cacique, mas sim, presidenta, Rosibel Quintero. Mulheres são a maioria, e todas trabalham para manter a família, muitas delas, na pousada e experiências abaixo.
“Há poucos anos não podíamos dirigir, trabalhar, ter dinheiro e mal podíamos sair de casa . Servíamos só para cuidar de filho e casa, sem direito nem ao nosso útero, porque éramos obrigadas a ter quantos filhos os homens quisessem. Muitas vezes, aguentando agressões dentro das casas. Mudamos nossa situação com esse projeto”, revela Rosibel.
Na parede, Rosibel mostra com orgulho o código de leis feministas redigidas por elas, com os direitos das mulheres.
Entre as leis escritas, estão direitos que deveriam ser básicos e óbvios, mas tiveram que ser reforçados e reivindicados, como a uma vida livre de violências psicológicas, físicas e sexuais.
Também estão o direito de decidir sobre sua vida sexual, optar por ter ou não filhos e de usar métodos contraceptivos, ter acesso à Justiça, à vida pública e mais direitos, nas fotos abaixo.
Para montar o projeto social de turismo na comunidade, Rosibel Quintero conseguiu um patrocínio externo, de uma ONG internacional que selecionou as mulheres para receber investimento. Com o dinheiro, elas criaram a pousada e a série de experiências.
O roteiro turístico das indígenas permite que pessoas do mundo todo possam conhecer e viver um pouco da cultura indígena panamenha.
Esse é o tipo de turismo que reforça a cultura de um povo, ao mesmo tempo em que enriquece quem visita, por ter a oportunidade de viver algo tão diferente da sua própria realidade.
Minha imersão na cultura indígena panamenha fez parte do evento mundial Adventure Travel World Summit, que em 2024 aconteceu no Panamá. Foi organizado pela Adventure Travel Trade Association, que, além de aventuras pelo mundo, traz os melhores destinos e iniciativas sustentáveis no turismo.
Como é dormir na aldeia?
Fiquei hospedada com a tribo na pousada indígena criada pelas mulheres Naso. No meio da mata fechada, das montanhas de Bocas del Toro, está a Posada Media Luna.
A experiência é incrível, mas a pousada é bastante rústica, já esteja avisado.
Há os quartos privados, com cama de casal, e os compartilhados, em um prédio de madeira de dois andares. Quem fica no andar de cima usa escadas íngremes, então, atenção ao peso das malas.
No quarto de madeira não há ventilador, nem espelho, e a porta deve permanecer fechada, para evitar que entrem animais e insetos. Mas, mesmo com o quarto fechado, minha vizinha teve que tirar um morceguinho amigo que entrou pelo forro.
Há uma rede para cobrir a cama, caso algum inseto entre, e tomadas para carregar o celular.
Os dois únicos banheiros são compartilhados, localizados na parte externa. É preciso atravessar pela trilha com mata fechada ao lado para chegar até eles, mesmo na chuva. E chove, viu.
A pousada fornece toalhas e sabonetes. Os chuveiros não têm água quente, e é bem provável que um besouro ou um sapo tome banho com você.
Toda energia da tribo vem de placas solares. É o turismo sustentável aplicado na prática, com solução energética, comida local e de convivência com a comunidade.
Mas, em dias mais chuvosos, a energia pode não ser suficiente para todas as tomadas. Se você curte um turismo de aventura e imersão riquíssima, e topa abrir mão de conforto, está no lugar certo.
A comunidade inteira está conscientizada da redução de plástico de uso único e separa o lixo para reciclagem. Placas de proteção animal e de políticas sustentáveis estão por todo lugar.
Segredo da longevidade
“Aqui não entra química no prato”, reforça a indígena Isabel, cozinheira de mão cheia e responsável pelo chocolate. Aos quase 60 anos, ostenta uma cabeleira preta sem nenhum fio branco.
Todas as refeições estão inclusas e vêm da terra. Nenhum processado é permitido. Isabel e mais ajudantes cozinham tudo no fogão a lenha. Trabalham em turnos para atender aos turistas.
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O café da manhã tem frutas, pão caseiro, e muitas vezes, patacones, bolinhos fritos de uma espécie de banana da terra, ou bolinhos de mandioca e nhame.
Para beber, café ou suco de cacau puro, 100%. As mulheres da tribo, que passam dos 90 anos, atribuem a vida longa à alimentação 100% natural.
No almoço e jantar, pratos são servidos na folha de bananeira. A comunidade não é vegana, mas elas prepararam comida vegana para mim.
Entre o que provei está carne de lentilha, em uma refeição completa com arroz, palmito, verduras e, algum bolinho.
Eu sempre torcia para que viessem os patacones, que são típicos e deliciosos. Você pode ver mais comidas, inclusive o que deve evitar, nos destaques dedicados a essa aventura, no meu Instagram.
Fazer chocolate do cacau
Você já pegou um cacau e transformou em chocolate? Eu já. Essa é uma das experiências que as mulheres Naso oferecem aos turistas.
Em um processo de uma tarde toda, que inclui a moagem, a limpeza e a torra dos grãos, você prepara seu chocolate em porções, que podem ou não levar leite e açúcar.
Também pode ser feito o chocolate quente, com ou sem leite. Para garantir anos de rejuvenescimento no meu carnê da vida, tomei sem açúcar nem leite.
Outra experiência oferecida é a oficina de artesanato. Um artesão experiente, artista que costuma vender grandes esculturas de madeira a colecionadores, veio até a cede para nos ensinar a talhar madeira na mão.
Mas eu, com minhas duas mãos esquerdas, nem me arrisquei pegar na ferramenta afiada para talhar as peças.
Visita ao Rei
Naquele dia, acordei bem cedo para pegar as jangadas de madeira e descer o rio Teribe por uma hora, rumo ao centro da monarquia Naso.
Visitei a única monarquia indígena das Américas. Com sorte, você ainda pode topar com o rei.
A viagem segue para a comunidade Naso Siey llik, um centro de convivência que tem escola, hospital, sala do Conselho Geral, uma prisão, para quem comete crimes, e o palácio real.
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Os Nasos são compostos por 16 comunidades, e o rei é a autoridade máxima. O trabalho do rei é escutar todas as comunidades para tomar decisões importantes e levar as reivindicações da tribo ao governo do Panamá.
Hierarquicamente, o rei fica abaixo do presidente do país, mas pode fazer reivindicações internacionais também, caso regras de direitos humanos sejam infringidas.
No palácio real, destaca-se um trono de cedro esculpido com diversos animais, considerados protetores e místicos. Entre eles está o jaguar, o mais forte deles.
Reza a lenda Naso que o jaguar, animal sagrado, toma as almas de pessoas más. Quando um jaguar morre, sua cabeça é enterrada por 8 dias, e se dança em volta da cabeça por 8 dias, e depois desenterram.
Número místico e defumação do pajé
O número 8 é místico na tribo. Quando uma menina menstrua pela primeira vez, ela faz um resguardo de 8 dias, sem comer carne, sal e sem banho frio.
Quando um terremoto abala as montanhas de Bocas del Toro, conte-se 8 dias para que ele se repita. Várias sinalizações da tribo levam o número 8.
Quando os espanhóis atacaram suas terras, o povo originário contou 8 dias e se preparou para o próximo ataque, que veio na data certeira.
O número, no entanto, não tem relação com religião, porque não há uma oficial, e cada um tem a religião que quiser.
Independentemente disso, o pajé é o guia espiritual da tribo e realiza cerimônias de defumação para espantar os maus espíritos.
A cerimônia é outra experiência que o turista pode fazer na comunidade. A fumaça, que vem da resina da árvore caranha e mais ervas, incluindo palo santo, é usada para espantar os maus espíritos. Toda vez que nasce uma criança Naso, ela é defumada ao lado da fogueira.
Essa resina, aliás, é usada como principal remédio da tribo. Em casos de doença grave, acidente ou picada de cobra, a resina ajuda com que a pessoa sobreviva até ser atendida em um hospital.
Isabel conta ainda que, durante a Covid, apenas 5 pessoas morreram, e eram muito idosas, com outras doenças. Os demais seguiram o ritual da resina, de ingestão, banhos e resguardo, e, dessa forma, a tribo passou quase ilesa pela pandemia.
Como chegar? Organize a viagem
Bocas del Toro é uma região do Panamá cheia de ilhas paradisíacas, banhadas pelo Caribe. Neste link, você pode ver a viagem pela parte caribenha.
As aventuras, seja caribenha ou esta imersão na tribo, começam da Cidade do Panamá, de onde pega-se um voo até a Isla Colon.
A partir da Isla Colon, pega-se um barco para pegar até Almirante, e, de lá, um carro para as montanhas, passando pela cidade de Changuinola.
O território Naso Tjër Di estende-se pela Floresta Protegida de Palo Seco e pelo Parque Internacional La Amistad (PILA), declarado Patrimônio Mundial pela UNESCO.
O ideal é que essa viagem seja feita com um guia especializado, pois não é simples chegar até a comunidade. Fiz com a agência EcoCircuitos, que foi maravilhosa.
Há dois fatores que devem obrigatoriamente ser considerados na viagem ao Panamá. O primeiro deles é o seguro-viagem.
Seguro-viagem é um item indispensável, pois, se algo acontece e você precisa de médico por lá, vai gastar aproximadamente 500 dólares só de consulta. No Panamá a moeda é o Balboa Panamenho, mas o dólar é a moeda mais usada.
Sempre viajo com o seguro Affinity, que, inclusive, tem planos que cobrem danos em malas durante a viagem. Você pode fazer sua cotação neste link.
Outra solução de viagem que deve ser pensada é estar conectado na internet durante todo roteiro.
Eu uso o chip da Skill Sim, que esrá presente em mais de 200 países. A empresa também oferece chip virtual, que é muito mais fácil de usar, pois não é preciso trocar o chip no aparelho. Faça sua cotação com desconto neste link.
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Roteiro por ilhas fantásticas de Bocas del Toro, o Caribe do Panamá